Fatos e Devaneios: Meu Reino Por Um Banheiro
Sabemos
que usar banheiro público não é muito recomendável e nem agradável. Mas,
muitas vezes um banheiro, seja ele qual for, é tudo o que queremos ver em
nossa frente.
Em nossa primeira história de Fatos e Devaneios vamos conhecer o jovem Malaquias, um batalhador da periferia, em uma aventura nada convencional.
Meu Reino Por Um Banheiro
Malaquias de Oliveira, conhecido como Malaca pelos amigos, trabalhava como Ajudante Geral próximo à Estação Barra Funda e morava na Zona Leste de São Paulo, todos os dias pegava o metrô em Itaquera e atravessava toda a linha leste-oeste até a Barra Funda, eram dezessete estações percorridas todas as manhãs em um aperto danado.
Certo
dia, chegando à estação Itaquera encontrou Zózimo, um antigo colega de
escola, depois de um aperto de mãos se dirigiram para a escada rolante.
Quando subiam a escada rolante Malaca sentiu algo estranho na barriga,
fez uma careta e Zózimo perguntou se estava tudo bem, Malaca afirmou que
não havia nenhum problema e seguiram para plataforma de embarque.
O
metrô chegou, ambos entraram esmagados pela multidão, quem anda de
metrô sabe do que estou falando, foi quando Malaca sentiu uma nova
manifestação em sua barriga acompanhada de uma contração anal, como se
um urubu estivesse beliscado sua cueca ou um poodle zumbi estivesse se
rebelando dentro dele. Malaca respirou fundo e se controlou, afinal
estava dentro do metrô e não tinha para onde correr naquele momento.
O
trajeto leste-oeste não era tão demorado normalmente, mas esta regra
não se aplica nos dias úteis, principalmente de manhã em meio toda a
confusão e com as pessoas tentando ir para o trabalho, Malaca tentava
controlar as forças ocultas que invadiam sua barriga, revolucionavam seu
intestino e estavam descarregando em seu...vocês sabem onde.
Parecia
uma eternidade, apenas duas estações se passaram e Malaca pensava
apenas que precisava aguentar até chegar ao serviço, neste ponto ele
quase não entendia o que Zózimo falava, este que por sinal falava pelos
cotovelos e sempre assuntos relacionados a nutrição, o cara era viciado
em nutrição e um radical, chegava ao ponto de apontar para o que as
pessoas estavam comendo na rua, um biscoito ou um chocolate e falava
quantas calorias tinha, percentual disso e daquilo, mas enquanto Zózimo
se distraia conversando sozinho, nosso herói sofria.
Quando
chegou ao Tatuapé, Malaca começou a considerar a possibilidade de parar
em algum lugar para ir ao banheiro. Suava feito louco em pleno inverno
paulistano, suava frio na verdade, tentava conter os gases que teimavam
em querer sair e ainda faltavam dez estações, mas a questão era onde ir,
o Tatuapé era uma opção, mas as portas já haviam fechado e o metrô
começava a se locomover, fora isso o que ele falaria para Zózimo, nem
sabia afinal onde este cara iria descer.
As
estações iam passando e a vontade aumentando, passou pelo Belém e
pensou que poderia segurar, pois naquele momento a vontade estava
aliviando, mas conforme passaram as três próximas estações uma cólica ia
aumentando parecendo que seu intestino estava se contorcendo. Chegando
na Estação Sé seus lábios estavam sem cor, aliás estava completamente
pálido, só conseguia se manter de pé levemente curvado e já não
conseguia mais conter os gases, saiam mesmo contra a sua vontade, neste
momento as portas se fecharam e metrô seguiu sentido a Estação
Anhangabaú, doze estações ficaram para trás e cinco estavam pela frente.
Foi quando Zózimo finalmente parou um pouco de falar e reparou em seu
colega, preocupado questionou se estava tudo bem, Malaca quase não
conseguiu responder, praticamente sem conseguir se manter de pé, sem cor
e molhado de suor, ele murmurou que estava ok. Zózimo não entendeu o
que Malaca disse e pediu para ele repetir, neste momento o metrô chegou
ao Anhangabaú e Malaca simplesmente saiu correndo em passos de pinguim
porta a fora. Zózimo se perguntava se teria sido algo que ele disse.
Andando
rapidamente em passos curtos de um pinguim com cãimbra Malaca se viu na
rua sem saber para onde ir. Em um súbito de consciência se lembrou que
atravessando a passarela em frente e entrando no terminal de ônibus da
Bandeira tem um banheiro público, o que ele nunca teve coragem de entrar
anteriormente, mas agora a história era outra, era questão de
sobrevivência, portanto Malaca seguiu para o terminal.
Para
os que olhavam Malaca parecia um maratonista de marcha atlética, seguiu
rapidamente para o banheiro, ao entrar viu que um senhor distribuía
pedaços limitados de papel higiênico, ou seja, o cara sabe o tamanho do
rabo de cada um e entrega o pedaço correspondente! Após negociar, retorcendo-se todo, conseguiu três pedaços, partiu finalmente em direção à
privada, todas estavam ocupadas e pela primeira vez na vida viu uma fila
para cagar, pediu gentilmente para passar na frente, os três rapazes
que estavam na frente olharam para Malaquias, viram o estado do rapaz e
permitiram sem pestanejar. Logo em seguida desocupou uma das privadas,
ele entrou e percebeu que não havia trinco na porta, olhou para a
privada suja e sem descarga, para ele naquela situação foi a coisa mais
linda que viu na sua vida, abaixou as calças e tentou não encostar na
privada, mas embalado pela cólica seguida da primeira rajada anal ele
não suportou e sentou de vez no vazo sanitário, os sons que se sucederam
eram indescritíveis, Malaquias soltou um urro de alivio misturados com
dor, uma lágrima escorreu em seu rosto e um silêncio celestial envolveu o
banheiro em seguida.
Malaquias
pensava no que havia passado e ameaçou rir aliviado, foi quando veio
outra erupção intestinal, seguido de mais despejo de entulho, sons que
não se ouve nem em filmes de terror, o senhor que entrega papel deu um
grito e abandonou seu posto, os rapazes que estavam na fila
misteriosamente perderam a vontade de ir ao banheiro, enquanto Malaca
segurava a porta sem trinco e seguia com seu fax interminável em todas
as consistências possíveis.
Após
terminar com o despacho fecal, Malaca percebeu que os três pedaços de
papel eram insuficientes, abriu sua bolsa e tentou usar folha de
caderno, mas espalhou ao invés de limpar, achou um lenço de pano que
virou história e terminou de se limpar utilizando a sua cueca, que
obviamente terminou no lixo.
Quando finalmente ergueu suas calças, olhou em volta e seguiu para o metrô.
Aquele
banheiro estava tão sujo, fedido e nojento que a imagem não saia de sua
cabeça, o cheiro não largava suas narinas, foi quando ficou em
dúvida... quem havia cagado em quem? Ele cagou no banheiro ou o banheiro
cagou nele?
O
importante é que a página foi virada e nosso herói seguiu em frente de cabeça erguida, como um Diplomata, sem cueca, sujo e fedido.